terça-feira, 12 de junho de 2012

Educação Cultural ou Violência Gratuita?

Lembro-me bastante bem de quando era criança, e me levantava bastante cedo nos fins-de-semana para ver os desenhos animados. Também me lembro bastante bem do que diziam aos meus pais: "Não devias deixar o gaiato ver aquilo. É demasiado violento. Pode influencia-lo mal.". Muita gente dizia isto, quando me via todo contente a brincar ao Dragon Ball. Mas depois levavam me a touradas...

É verdade que a mente de uma criança é bastante influenciável. Mas será correcto impedir uma criança de ver desenhos animados violentos e depois levá-la a assistir a uma corrida de touros? Pelo menos os cartoons não são reais. As touradas são o mais real que se possa ter. E a única coisa que ensinam a uma criança é que não há problemas em maltratar um animal. Aliás, isso é bem visto! Aparecem na televisão, batem palmas sempre que cravam um ferro no animal, atiram flores depois de este já não aguentar mais, e ser levado para fora da praça.

Agora o Bloco de Esquerda lançou a proposta de proibir touradas na televisão pública. E o caos instalou-se! Todos os aficionados se levantaram dos seus sofás e gritaram em revolta. "Um atentado contra a nossa liberdade!! Um escândalo!" Até se preparam para se mobilizar em peso para a sessão de discussão na Assembleia! Mas será assim tão errado proibir a transmissão televisiva dos eventos tauromáquicos?

Em primeiro lugar, quando transmitidas pela televisão, as touradas são transmitidas em horário nobre. Quando toda a família, na boa tradição do século XXI nos países industrializados, se senta em frente da televisão a digerir o jantar e a absorver todas as horribilidades que a televisão portuguesa lhes transmite. Ora a transmissão de uma tourada em horário nobre torna esta hora "familiar" numa influência negativa para a mente de uma criança. - "Ah, o papá gosta imenso deste cavaleiro, deve ser muito bom. E ele grita sempre que espeta aquilo no touro, deve ser bonito então. A mamã suspira sempre que o cavaleiro se esquiva e mais uma vez espeta outro ferro no touro. Deve ser mesmo muito giro. O touro deve ser um animal mesmo mau, a querer bater nos senhores. Se ele lhes quer bater não faz mal que nós lhes batamos também..." - É isto, em termos gerais, que pode surgir na mente das crianças. Em pior instância podes estar a educar sujeitos amorais em relação aos animais, que cresceram neste meio e não vêm mal nenhum em espetar um ferro num boi, em dar um tiro numa lebre ou raposa, em espancar um cão ou pontapear um gato. E estes jovens irão crescer e mostrar isso aos seus filhos. Que os animais são apenas ferramentas usadas, são descartáveis, não tem sentimentos, não sentem dor...

Sendo totalmente abolicionista em relação às touradas concordo com este movimento do BE, e espero que seja um dos primeiros passos para por fim a esta barbárie. Não só para quem não concorda não ter que levar com as touradas na televisão, se não também pelas nossas crianças. O contacto de um jovem com a tauromaquia só devia começar a partir do momento em que ele/ela já tenham maturidade suficiente para fazer o seu próprio julgamento. Vamos lutar para que a nossa juventude cresça sem imagens reais e bárbaras de violência.