sábado, 5 de maio de 2012

Sede de Violência

A competição é uma relação biológica que desde sempre existiu entre vários organismos, sejam eles da mesma espécie ou de espécies diferentes. A competição é algo bom na Natureza. É necessário haver competição para que se mantenha uma ordem. Um equilíbrio. Os recursos são limitados. Num exemplo banal, um esquilo cinzento e um esquilo vermelho, partilhando ambos a mesma zona do agradável parque citadino de uma cidade europeia, vão ambos competir por uma noz. Eles não vão partilhar a noz. A necessidade de sobreviver fala mais alto. Apenas um deles terá a noz, e para isso terão de competir.
Exemplos biológico-filosóficos à parte, é claro como água que a competição traz violência. E foi aqui que o intelecto superior do ser humano se revelou em certa parte monstruoso.

À medida que as sociedades humanas foram evoluindo, a competição entre si tornou-se mais moderada, menos necessária. E é aqui que a natureza começa a empurrar o Ser Humano para uma competição "forçada". Desenvolvemos métodos para continuarmos a competir, estabelecer dominâncias, marcar posições hierárquicas. E estes eventos começaram a ser vistos como entretenimento não só para quem os praticava, mas também para quem os observava de fora, incólumes. A competição deixou de ser vista como uma obrigação. O Ser Humano tomou o gosto pela competição.
Mas fomos longe demais. A competição não chegava. O Ser Humano tinha a necessidade de confrontos violentos, sede de sangue e carnificina. Quando não havia encontros bélicos, algo teve que ser criado para saciar esta sede.

Muitos são os registos históricos em que actos de sacrifício e violência são usados de diversas formas. Desde sacrifícios animais para apaziguar um panteão de supostos seres celestiais, que exigiam o sangue dos nossos animais, e por vezes de nós mesmos, até violentas lutas até à morte entre dois escravos, não chegando serem privados da sua liberdade, com também forçados a lutar até um deles perecer.
Como é de conhecimento geral, nenhum evento deste género é mais conhecido do que as célebres arenas de gladiadores do Império Romano.


 


Milhares de homens morreram nestes confrontos. Escravos sem escolha. Tudo por uma multidão sedenta de sangue. Clamavam pela morte de um homem como se de nada se tratasse. A sua compaixão por um Ser Humano, em nada diferente deles, era nula.

Claramente tal espectáculo sangrento foi-se dissipando com o passar de séculos e perdeu-se nos anais da história. Hoje em dia tal espectáculo seria considerado uma abominação. Um crime contra a Humanidade e todos os seus direitos. Mas a sede de sangue dos Homens não ficou de forma alguma saciada. Continua sadicamente presente nas nossas sociedades. Mas como utilizar Homens nestas lutas já não é aceite, então teve que se encontrar alternativas...







As lutas de galos, ao contrário do que se pensa, é um "desporto de sangue" bastante disseminado por todo o mundo. Apesar de ilegal em muitos dos países desenvolvidos, continua a ser praticada ilegalmente, e é ainda legal e, em alguns casos, financiado e controlado pelo governo, em países  em desenvolvimento. É justificada como prática cultural e religiosa. 
Neste "desporto", dois galos jovens, naturalmente agressivos para com outros machos, são colocados num ringue para lutarem. Não parece ser nada de extremamente anti-natura até este ponto. Mas estes galos são mutilados antes de entrarem na arena e são lhes colocados lâminas nos esporões das patas, para infligirem graves ferimentos nos adversários. Mesmo não sendo muitas das lutas até à morte, os ferimentos sofridos são de tal ordem graves que é raro o animal sobreviver a uma luta que não tenha sido ganha. Mesmo saindo vitorioso, nem sempre essa vitória veio despegada de terríveis lacerações. 

Mas os galos não são os únicos...



O cão. Chamado do melhor amigo do homem. Já diz a corriqueira expressão "com amigos assim, quem precisa de inimigos", pensariam os nossos camaradas caninos. Sendo um animal perfeitamente domesticado, é fácil para um ser humano treinar um cão para realizar as mais variadas tarefas. Inclusive lutar até ao final. Sendo criado e treinado desde pequeno pela mesma pessoa, o cão vai responder às suas ordens, com a maior fidelidade intra-especifica conhecida na Natureza. E é desta forma que nós pagamos a divida de gerações de fidelidade e entre-ajuda, sem a qual a nossa evolução como sociedade desenvolvida teria sido tão mais árdua? Colocando-os a lutar entre eles de forma brutal, ensinando-os a serem agressivos e violentos, mutilando os seus corpos e destruindo a sua reputação? Com que direito realiza o Ser Humano tais acções? Isto ultrapassa qualquer necessidade básica que possamos ter. Não é sobrevivência do mais apto. E puro e simples sadismo. 


Por fim, gostaria apenas de perguntar: 
Qual é a diferença dos exemplos de cima e isto





Se sentiram compaixão pelos galos e pelos cães, e se acharam bárbaros aqueles eventos, chamados "desportos de sangue", então porque não dizer o mesmo deste "desporto de sangue", praticado livremente no nosso país e vizinhos?! 
Se há compaixão e direitos para uns, porque não há para outros?  

1 comentário:

  1. Não podia concordar mais... Com todas as magníficas capacidades que o ser humano tem (a sua inteligência, entre-ajuda, compaixão entre tantas outras), opta por se aproveitar de animais indefesos que não têm escolha possível. Expresso em palavras fortes, tal como deve ser, isto é nojento, é um ultraje contra aqueles que nada nos fizeram. É absolutamente horrendo e indignante, ainda mais pelo simples facto das pessoas chamarem a isto "espectáculo".
    Temos que continuar a tentar mudar isto, e não pode ser só falando. Temos de agir.

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