sábado, 5 de maio de 2012

Tradição ou Contradição?

Cultura. A própria palavra em si inspira confiança. Quando a ouvimos sentimos uma onda de conforto, porque automaticamente sabemos que é algo que é "nosso", é a nossa identidade como povo, aquilo que nos diferencia de outros grupos. Impomos o seu respeito. Aliás, o seu respeito é algo que nos é dado como direito. Nós temos direito à nossa identidade cultural! E ai de quem nos diga que não! Defendemos a nossa cultura com unhas e dentes, qual progenitora enraivecida defendendo as suas crias de predadores covardes e traiçoeiros. Mas toda a progenitora sabe quando as suas crias estão mortas e apodrecidas por vermes. E é aqui que o povo se desliga desta analogia, e continua a lutar por algo obsoleto e sem sentido.
A tauromaquia é, sem sombra de dúvida, uma grande parte da cultura portuguesa. Isso é um facto indiscutível que ninguém se deveria atrever a negar. Faz parte da nossa tradição. Mas outra coisa é certa: As tradições não são imortais. E tal como tudo o que não é imortal, está destinado a morrer.
Muitas tradições se tornaram obsoletas com o passar de gerações. As mentalidades sofrem transformações, novas escolas de pensamento são criadas, descobertas são feitas, que mudam toda a imagem que o Ser Humano tem do mundo que habita. Muitas tradições desapareceram já, assim como civilizações inteiras, porque se tornaram obsoletas. Muitas tradições de hoje em dia irão também desaparecer, e mesmo tradições que ainda não são consideradas como tal, vão desaparecer também. As corridas de touros não fazem se não parte do primeiro grupo: Uma tradição despropositada nos dias que correm, bárbara até aos olhos de muitos. Mesmo com todo o consciencialismo ambiental, todo o conhecimento cientifico de que dispomos, continuamos a abusar de um animal para divertimento sádico de uma elite, que defende este bárbaro sacrifício animal em plena praça pública. Educamos as nossas crianças para pensarem que não existe nada de mal em cravejar um animal de bandarilhas e farpas, deixando-o a sangrar e a sofrer enquanto a plateia observa de olhos vidrados com sadismo e mente toldada por ignorância. Como podemos esperar que essa geração sejam os futuros guerreiros ambientais, a lutar por um futuro sustentável e pela sobrevivência do planeta, se o respeito pelos animais é lhes totalmente retirado desde tão tenra idade? Como podemos esperar o respeito vindo de homens educados num meio governado por déspotas irracionais, com uma mentalidade demasiado fechada para abraçarem novos ideais?
Sendo as corridas de touros uma tradição, é compreensível que seja difícil despegar a sua presença do quotidiano de um conjunto de pessoas, e entendo que a abolição deste evento não esteja para um futuro extremamente próximo. Aquilo por que teremos que lutar é pela educação da juventude no sentido de mostrar o quão errado é a tortura e mutilação de um animal em praça pública, o derramamento do seu sangue pelo clamor da multidão, a sua morte em pura agonia por 2 horas de excitação da plateia e deleite adrenérgico do toureiro.
Nas mãos do futuro se encontra o golpe de misericórdia contra esta obsoleta tradição. 

1 comentário:

  1. Muito Bom Zé Maria! Concordo com tudinho! cresci com esta tradição e espero que ela morra antes de mim! Abreijos. Samuel.

    ResponderEliminar